Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vincent, o primeiro filme de Tim Burton

Vincent é o primeiro curta-metragem de animação de Tim Burton, e foi feito em 1982. Neste curta já aparecem as qualidades de Burton pra contar histórias de horror, como A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Os Fantasmas Se Divertem, Edward Mãos-de-Tesoura, A Noiva Cadáver e Swenney Todd.

Pra mim, esta é melhor história de terror para crianças que já vi em cinema.

Além do conto ser em forma de poema, rimado, ele é narrado por Vincent Price, famoso ator norte-americano de filmes de terror.

Veja o filme com legendas em português:



***

E o poema, traduzido por mim para o português (é uma tradução rimada, mas bem livre; é quase uma tradução literal, com pequenos ajustes para as rimas, como em "Voe, Jane, voe", que seria "Vá, Jane, vá", sem muita pretensão, apenas diversão; coisa de criança para crianças):
Vincent Malloy is seven years old
He’s always polite and does what he’s told
For a boy his age, he’s considerate and nice
But he wants to be just like Vincent Price

Vincent Malloy tem sete anos de idade
Faz tudo que pedem com docilidade
Para sua idade, é ponderado e “demais”
Mas ele quer ser exatamente como Vincent Price
He doesn’t mind living with his sister, dog and cats
Though he’d rather share a home with spiders and bats
There he could reflect on the horrors he’s invented
And wander dark hallways, alone and tormented

Não se importa em morar com a irmã, cão e felídeos
Embora preferisse um lar com morcegos e aracnídeos
Onde refletiria sobre seus horrores inventados
E vagaria em escuros corredores, só e atormentado
Vincent is nice when his aunt comes to see him
But imagines dipping her in wax for his wax museum
He likes to experiment on his dog Abercrombie
In the hopes of creating a horrible zombie

Quando a tia vem vê-lo, Vincent é um camafeu
Mas imagina imergi-la em cera para seu museu
Gosta de fazer experiências com seu cão Abercrombie
Na esperança de criar um horrível zumbi
So he and his horrible zombie dog
Could go searching for victims in the London fog
His thoughts, though, aren’t only of ghoulish crimes
He likes to paint and read to pass some of the times

Assim, ele e seu cão zumbi vituperino
Poderiam buscar vítimas no nevoeiro londrino
Mas ele não pensa apenas em crimes violentos
Gosta de pintar e ler para passar o tempo
While other kids read books like Go, Jane, Go!
Vincent’s favourite author is Edgar Allen Poe
One night, while reading a gruesome tale
He read a passage that made him turn pale

Enquanto outros garotos lêem livros como “Voe, Jane, Voe!”
O autor favorito de Vincent é Edgar Allan Poe
Uma noite, enquanto lia um conto repulsivo
Leu uma passagem que o deixou apreensivo
Such horrible news he could not survive
For his beautiful wife had been buried alive!
He dug out her grave to make sure she was dead
Unaware that her grave was his mother’s flower bed

Não escaparia a uma notícia tão aflitiva
Pois sua bela esposa tinha sido enterrada viva!
Cavou seu túmulo pra confirmar que estava morta
Sem saber que seu túmulo era de fato uma horta
His mother sent Vincent off to his room
He knew he’d been banished to the tower of doom
Where he was sentenced to spend the rest of his life
Alone with the portrait of his beautiful wife

A mãe o mandou para o quarto, punido,
Para a torre da perdição tinha sido banido
Onde foi condenado a passar o resto da vida
Sozinho com o retrato de sua esposa querida
While alone and insane encased in his tomb
Vincent’s mother burst suddenly into the room
She said: “If you want to, you can go out and play
It’s sunny outside, and a beautiful day”

Enquanto preso em sua tumba, solidão e tormento
Sua mãe irrompeu subitamente no aposento
Ela disse: "Se quiser, você pode sair e brincar
Está um belo dia, com o sol a brilhar"
Vincent tried to talk, but he just couldn’t speak
The years of isolation had made him quite weak
So he took out some paper and scrawled with a pen:
“I am possessed by this house, and can never leave it again”
His mother said: “You’re not possessed, and you’re not almost dead
These games that you play are all in your head
You’re not Vincent Price, you’re Vincent Malloy
You’re not tormented or insane, you’re just a young boy
You’re seven years old and you are my son
I want you to get outside and have some real fun.

Vincent tentou falar, mas nada foi ouvido
Os anos de isolamento o tinham enfraquecido
Então puxou um papel e rabiscou com uma caneta:
"Nunca deixarei esta casa, ela tomou minha cabeça"
Sua mãe disse: "Você não está possuído, e não está quase morto
Esses jogos que simula é que lhe deixam absorto
Você não é Vincent Price, você é Vincent Malloy
Não é atormentado ou insano, está apenas “dodói”
Você é o meu filho e tem sete anos de idade
Quero que você saia e divirta-se de verdade.
Her anger now spent, she walked out through the hall
And while Vincent backed slowly against the wall
The room started to swell, to shiver and creak
His horrid insanity had reached its peak

Passada sua raiva, ela saiu pelo saguão calmamente
Enquanto Vincent recuava contra a parede lentamente
O quarto começou a crescer, e a tremer, com rangido
Sua horrenda insanidade tinha o ápice atingido
He saw Abercrombie, his zombie slave
And heard his wife call from beyond the grave
She spoke from her coffin and made ghoulish demands
While, through cracking walls, reached skeleton hands

Ele viu Abercrombie, seu escravo zumbi
E ouviu a voz da esposa, do além-túmulo a zumbir:
Ela fez exigências macabras, falando no caixão
Enquanto, pelas paredes rachadas, esticava magras mãos
Every horror in his life that had crept through his dreams
Swept his mad laughter to terrified screams!
To escape the madness, he reached for the door
But fell limp and lifeless down on the floor

Todo o horror em sua vida que surgiu nos seus sonhos
Levou seu riso louco a gritos medonhos!
Para escapar da loucura, ele correu pro portão
Mas caiu vacilante e sem vida no chão
His voice was soft and very slow
As he quoted The Raven from Edgar Allan Poe:

Suave e muito lenta sua voz soou
Quando ele citou O Corvo de Edgar Allan Poe:
“And my soul from out that shadow
that lies floating on the floor
shall be lifted?
Nevermore…”

"E a minh'alma dessa sombra
que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á...
nunca mais!"

(Verso de O Corvo traduzido por Fernando Pessoa)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ouça o poema Invictus, com Morgan Freeman

Invictus é um poema victoriano do poeta inglês William Ernest Henley (1849–1903).

Henley foi um poeta de vida trágica e corajosa: aos doze anos, pegou tuberculose nos ossos, e algum tempo depois seu médico decidiu amputar sua perna abaixo do joelho, como a única maneira de salvar sua vida, nos seus 25 anos de idade.

Um ano depois ele escreveu o poema Invictus, e viveu até os 53, de maneira produtiva.

Quanto ao poema, inicialmente ele foi publicado em seu Livro de Versos, de 1888, o quarto numa série sobre vida e morte, sem título. Esse título foi colocado por Arthur Quiller-Couch, quando ele incluiu o poema no Livro de Versos Ingleses da Oxford.

Ouça o original na voz de Morgan Freeman, em cena do filme Invictus (2009), dirigido por Clint Eastwood, e estrelado por Morgan, que faz o papel de Nelson Mandela, e Matt Damon (François Pienaar), que interpreta o capitão do time de rugby da África do Sul, campeã mundial em 1995. Pienaar foi inspirado por este poema, que foi lhe dado pelo então recém-eleito Mandela (1994), que o usava como fonte de inspiração e força durante os 27 anos que passou na prisão em Robben Island.

*

*

Abaixo, você pode comparar o original com minha tradução, na qual segui a métrica do poema em inglês (octossílabos), a acentuação ritmica (quartas e oitavas sílabas de cada verso), e as rimas (que foram mantidas; em alguns casos, apenas troco a posição delas, ou de versos, mas sem perder o conteúdo).
Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

***

Deixando a noite que me abraça,
Escura como a fossa infinda,
Aos deuses que há eu rendo graças
Pela minha alma não vencida.

No aperto atroz da circunstância,
Não há nenhum temor ou brado.
Sob as pancadas do acaso,
Sem se dobrar, minha fronte sangra.

Fora do espaço de ira e prantos,
Assoma o Horror da escuridão,
Mas a opressão que vem dos anos
Me encontrará sem aflição.

Não importa o quão pesado é o fardo,
O quão estreito é o portão,
Eu sou o mestre do meu fado:
Da minha alma, o capitão.

*

Nota do tradutor: O verso "O quão estreito é o portão" é uma referência a um ensinamento de Jesus Cristo, citado em Mateus, 7:13-14:

Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;

E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.

***

Veja vídeo com o poema recitado por Alan Bates: